FBM: O caminho para a humanização da indústria

Em um universo marcado por máquinas, ferramentas e desafios técnicos, a figura de Ângela Zanandrea surge como símbolo de resiliência e liderança. Diretora administrativa da FBM – Fábrica Brasileira de Moldes, ela se destaca em meio a um cenário predominantemente masculino ao lado do irmão, Daniel, e do pai, Carlos Zanandrea, fundador da empresa.

A história da FBM começa com Carlos, engenheiro mecânico que, inspirado pela tradição empreendedora da família, iniciou sua trajetória na ferramentaria nos anos 1970. Após experiências em grandes indústrias de Caxias do Sul e Joinville, decidiu dar um passo ousado e fundar sua própria empresa. Nem tudo foi simples: divergências com sócios e fracassos iniciais marcaram os primeiros empreendimentos. Mas da adversidade nasceu a FBM, que ao longo de doze anos se transformou em referência nacional no desenvolvimento de moldes para a indústria automotiva, de eletrodomésticos e da construção civil.

Para Ângela, assumir esse legado nunca foi óbvio. Formada em Ciências Contábeis, sonhava em ter seu próprio escritório, mas acabou encontrando na FBM o espaço para florescer como empreendedora. Começou de baixo, atuando como secretária, e foi conquistando cada função com esforço e dedicação. “Nunca me vi apenas como filha do dono. Aqui dentro, meu pai é o chefe. Precisei provar que estava ali por mérito e mostrar meu valor”, lembra. O processo de amadurecimento profissional foi também um exercício de convivência familiar. Trabalhar ao lado do pai exigiu respeito e aprendizado. “No início, achava que sabia tudo. Com o tempo, percebi que precisava ouvir e absorver a experiência dele. Hoje, cada decisão é fruto de troca e de uma construção conjunta com meu pai e meu irmão”, afirma.

Mais do que uma empresa, a FBM se tornou parte da identidade da família. Carlos, prestes a se aposentar, transmite aos filhos não apenas o comando da operação, mas também uma cultura baseada em união, honestidade e compromisso coletivo. “Cada pessoa que passou pela FBM deixou sua marca. Isso é um legado vivo, construído por muitas mãos”, destaca Ângela. Sob sua gestão, a empresa mantém-se competitiva em um mercado desafiador, investindo em inovação e formação contínua. Se antes produzia moldes para veículos a combustão, hoje já está preparada para atender às demandas de carros híbridos e elétricos. Cursos internos, modernização de processos e atenção rigorosa à qualidade garantem que a FBM continue sendo referência, concorrendo de igual para igual com gigantes internacionais, como a China. Mas Ângela também olha para o futuro com novos horizontes. Ao lado do pai, do irmão e de dois sócios estratégicos, fundou a Davim-Complasa, empresa voltada à construção civil que já desponta como uma promessa de mercado. “A FBM é parte da minha vida, mas acredito que diversificar é essencial. Queremos expandir para novos setores e levar nossa expertise para outras áreas da indústria”, explica.

Se a trajetória de Carlos mostrou como a persistência pode transformar dificuldades em conquistas, a de Ângela prova que liderança também se faz com sensibilidade. Para ela, ser mulher em um ambiente fabril é um desafio, mas também uma missão. “Precisamos enfrentar os conflitos e mostrar que somos capazes de ocupar qualquer função. Podemos ser quem quisermos”, afirma. Ao equilibrar papéis de empresária, filha, mãe e líder, Ângela Zanandrea se consolida como exemplo de coragem e visão. Sua presença reforça que a verdadeira inovação não está apenas nas máquinas, mas na humanização das relações que constroem a indústria e a vida.